Para a Semiótica da Cultura, a cultura é um conjunto, uma totalidade de textos, cujas vinculações entre si são regulamentadas culturalmente. O núcleo das pesquisas desenvolvidas pela Escola de Tártu-Moscou são os sistemas de signos, que, colocados em uma determinada hierarquia, constroem o texto da cultura. Por isso a cultura, além de ser compreendida como uma determinada combinação de sistemas de signos, também é considerada um texto, por sua vez definido como um conjunto de mensagens realizadas numa língua, em determinado momento histórico (MACHADO, 2003).
Quando falamos de textos, estamos nos referindo também às obras de arte, rituais e mitos. Conforme explica Bystrina (1995), textos são complexos de signos dotados de sentido e que preenchem uma função, seja comunicativa – como participar ou informar sobre algo – estética, emotiva ou expressiva, entre outras funções sociais.
Os textos exercem sempre mais de uma função, sendo classificados de acordo com elas: textos instrumentais (mais técnicos, cotidianos, pragmáticos), textos racionais (matemáticos, lógicos, das ciências naturais) ou textos criativos e imaginativos (mitos, rituais, obras de arte, ideologias, ficções). São estes últimos que, de acordo com Bystrina (1995), situam-se no centro da cultura, pois são necessários para a sobrevivência dos seres humanos em um nível psíquico, e não somente físico e material. O mito se destaca entre eles, como afirma Malena Contrera: “O mito (juntamente com os sonhos, as variantes psicopatológicas e os estados alterados da consciência) é considerado fonte básica a partir da qual os textos/tramas da cultura são tecidos” (CONTRERA, 2000, p. 18).
O signo, por sua vez, é definido como um objeto material produzido por um produtor de signos (ser vivo), recebido por um receptor e interpretado por esse mesmo receptor. O conjunto que envolve produtor (ou emissor) do signo, signo e receptor do signo consiste na dimensão pragmática da semiose. Também existem a dimensão semântica, entre signo e significado, e a dimensão sintática entre diferentes signos (BYSTRINA, 1995). A dimensão semântica é a mais importante, uma vez que os textos, enquanto complexos significativos, são compostos por signos que possuem sentido (lembrando que esses signos pertencem a linguagens, que por sua vez se compõem de diversos sistemas de signos). Por fim, existem os códigos, que são os sistemas de regras e vinculações entre os signos.
Existem três tipos de códigos: primários, secundários e terciários. Os códigos primários regulam apenas a informação biológica; ou seja, o organismo, a própria vida em si. Eles são os primeiros a serem ativados e são suficientes para a transmissão de certas informações, como o código genético, mas não são capazes de produzir signos. Somente com os códigos secundários, ou códigos de linguagem, torna-se possível compor textos. Um exemplo de código secundário é a gramática das línguas naturais, que, no entanto, ainda não é considerada cultura, uma vez que só expõe a linguagem enquanto técnica.
O que dá origem aos textos da cultura são os códigos terciários, ou culturais, principal objeto de estudo da Semiótica da Cultura. É por meio deles que as informações dos códigos primários e secundários adquirem maior significado: “o que para os códigos primários é uma necessidade — por exemplo, a oposição entre claro e escuro — só é realizado pela atuação de um código secundário — a construção gramatical da frase, por exemplo” (BYSTRINA, 1995, p. 5). É na esfera dos códigos terciários que o público se torna capaz de interpretar os textos, graças à tessitura dos sentidos por meio da linguagem (CAMARGO, 2011).
Aqui, cabe ressaltar que, para uma informação se tornar signo, é necessário que nela haja intenção, mesmo que não necessariamente uma intenção consciente. Quando abordarmos os conceitos de consciência e inconsciência, este destaque servirá para refletirmos sobre a relação entre a estrutura dos textos e a da psique.
Nenhum comentário:
Postar um comentário