"A vida faz mais do que se adaptar à Terra; ela a modifica. A evolução é uma dança bem engendrada na qual a vida e o ambiente material formam um par. Dessa dança emerge a entidade Gaia." (James Lovelock)

Uma abordagem sistêmica

A Semiótica da Cultura se destaca enquanto linha teórica pertinente para o estudo da presença de conteúdos arcaicos na cultura de massas, como demonstram as pesquisas desenvolvidas por Malena Contrera (2000; 2002) e Hertz Wendell de Camargo (2011). Assim como os estudos destes autores, a presente dissertação toma como referência Ivan Bystrina (1995), um dos teóricos que contribuíram para a sistematização da Semiótica da Cultura como disciplina, além de ter atuado pela sua divulgação no Brasil, proferindo palestras e ministrando aulas teóricas ao longo da década de 1990.

Bystrina (1995) defende o conceito de “sistema” como fundamental, assim como o de “estrutura”, com base em sua investigação sobre a presença de traços invariantes no processo de codificação de textos culturais. Para a Semiótica da Cultura, o sistema é um objeto composto por um conjunto de elementos ou complexos subsistemas e pelo conjunto das relações entre esses elementos ou subsistemas. Aplicando essa noção à cultura, os textos culturais são sistemas formados por signos, significados, códigos e linguagens, por sua vez formados por outros textos, e todos eles compõem um sistema maior, que é o texto da cultura. Desse modo, a cultura é vista como um conjunto dinâmico de relações, e não como uma estrutura total, finalizada. 

Irene Machado (2003) também se empenha na disseminação das ideias da Escola de Tártu-Moscou, por onde ocorreu a aproximação entre os estudos de semiologia e cultura que deu origem à Semiótica da Cultura. Machado (2003) explica que os semioticistas dedicados ao estudo da cultura investigam sobretudo os mecanismos semióticos manifestados em sistemas diversos, compreendendo o próprio mundo como linguagem. Isto permite ler a própria natureza como produtora de sistemas semióticos, ou seja, desenvolvedora de processos sígnicos, constituindo uma linguagem que se manifesta em diversas formas de comunicação, nos mais variados domínios (MACHADO, 2003, p. 26). Antes de examinarmos as bases do campo interdisciplinar que constitui a Semiótica da Cultura, apresentaremos conceitualmente o que vamos tratar como cultura e como ela se relaciona com os conceitos de natureza¹, inconsciente e mitologia. 

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¹ Optamos pelo uso de natureza, e não meio ambiente, porque “natureza” costuma definir elementos naturais, não-humanos, a serem preservados ou contemplados, enquanto “meio ambiente” abrange tanto elementos naturais quanto elementos construídos, o que inclui aspectos sociais.


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